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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Intertextualidade: Significado e tipos

RELAÇÃO ENTRE TEXTOS


Nos anos 90, Pedro Luis e Fernanda Abreu lançaram a canção “Tudo vale a pena”, cujo refrão diz o seguinte: “Tudo vale a pena, sua alma não é pequena”. O mote, na verdade, faz referência ao famoso poema “Mar português” (1934), do poeta Fernando Pessoa: 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
 
Como podemos ver, temos dois textos que, apesar de distantes no tempo e no espaço, dialogam entre si. Essa relação entre dois ou mais textos é chamada de intertextualidade
A intertextualidade acontece quando um texto retoma uma parte ou a totalidade de outro texto – o texto fonte. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados fundamentais em uma determinada cultura. No exemplo dado, compositores brasileiros contemporâneos retomam um dos textos mais reverenciados da literatura portuguesa. 
É importante considerar que a intertextualidade pode ocorrer entre textos de mesma natureza ou de naturezas diferentes. 
Cartum - Vida de passarinho (Foto: Reprodução)Cartum - Vida de passarinho (Foto: Reprodução)
Veja, por exemplo, que o cartum de Caulos tem como texto fonte o poema de Carlos Drummond de Andrade, de 1930. 
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
.
A seguir, veremos que a intertextualidade pode ocorrer de diferentes maneiras.

CITAÇÃO

Propaganda Chevrolet (Foto: Reprodução)Propaganda Chevrolet (Foto: Reprodução)
Esse procedimento intertextual acontece quando um texto reproduz outro texto ou parte dele. Para sinalizar que houve a reprodução de outro texto, são utilizados alguns marcadores, como as aspas. Dessa forma, o texto deixa claro que o trecho ou o texto citado foi tirado de outra fonte.
A compreensão adequada de um intertexto depende, naturalmente, do conhecimento do texto fonte. No exemplo dado, a propaganda buscou inspiração notexto bíblico, marcando sua reprodução por meio de aspas.

PARÓDIA

A paródia consiste em uma subversão ao texto fonte, recriando-o de maneira satírica ou crítica. Dizendo de outra maneira, a paródia ironiza o texto original e inverte seu sentido. “Canção do exílio” (1847) é um dos textos mais parodiados da cultura brasileira, exercendo sua influência por várias gerações. 
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. 
Agora, leia parte da paródia composta pelo humorista e apresentador Jô Soares: 
Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiamNão fazem cocoricó. 
No poema de Gonçalves Dias, do final do século XIX, o eu lírico deseja cantar a saudade que sente de sua terra natal, o Brasil, enfatizando seus encantos e belezas naturais. O texto de Jô Soares, do final do século XX, desconstrói o sentido do texto original, já que o eu lírico quer distância da terra natal, pois prefere as mordomias da Casa da Dinda, como ficou conhecida a residência oficial do presidente da república da época, Fernando Collor de Mello. 
Através da paródia, Jô Soares faz uma crítica aos escândalos de corrupção do governo, que culminaram no processo de “impeachment” do presidente. 

PARÁFRASE

Fazer uma paráfrase significa reproduzir as ideias de um texto, só que utilizando outras palavras, dentro de uma nova montagem. É o recurso intertextual que se faz presente, por exemplo, em resumos, atas e relatórios, que fazem parte do nosso cotidiano. 
Veja um exemplo de paráfrase da tão parodiada “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias: 
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a “Canção do Exílio”.
Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que palmeiras
onde canta o sabiá
 
Perceba que o poema “Europa, França e Bahia”, de Carlos Drummond de Andrade, estabelece um diálogo com o texto de Gonçalves Dias, mas não tem uma intenção satírica – é uma paráfrase.

CAIU NO ENEM



(Enem 2009 - Questão - prova azul) 
Texto 1

No meio do caminho
 
No meio do caminho tinha
uma pedra
Tinha uma pedra no meio
do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha
uma pedra  

Texto 2
Questão de português do Enem 2009 (prova cancelada) (Foto: Reprodução/Enem)Questão de português do Enem 2009 (prova cancelada) (Foto: Reprodução/Enem)
A comparação entre os recursos expressivos que constituem os dois textos revela que 
a) o texto 1 perde suas características de gênero poético ao ser vulgarizado por histórias em quadrinho.
b) o texto 2 pertence ao gênero literário, porque as escolhas linguísticas o tornam uma réplica do texto 1.
c) a escolha do tema, desenvolvido por frases semelhantes, caracteriza-os como pertencentes ao mesmo gênero.
d) os textos são de gêneros diferentes porque, apesar da intertextualidade, foram elaborados com finalidades distintas.
e) as linguagens que constroem significados nos dois textos permitem classificá-los como pertencentes ao mesmo gênero. 
Resolução:Como vimos, a intertextualidade pode ocorrer entre textos de naturezas diferentes. No caso, temos uma história em quadrinhos que retoma um poema de Drummond. Aliás, o conhecimento do poema é fundamental para compreender a paródia realizada nos últimos quadrinhos da história. Por fim, enquanto o texto 1 faz uma reflexão de caráter existencial e filosófica, o texto 2 tem um objetivo mais modesto, que é provocar humor. Gabarito: D

Mais Exemplos:







                                        





Fontes: http://www.infoescola.com/portugues/intertextualidade-parafrase-e-parodia/
Imagens:
http://www.infoescola.com/portugues/intertextualidade-parafrase-e-parodia/
http://priscilapantaleao.wordpress.com/2013/06/26/tipos-de-intertextualidade/

http://aleituradeumadoslescente.blogspot.com.br/2013/06/intertextualidade.htmlhttp://www.alunosonline.com.br/portugues/intertextualidade-na-linguagem-publicitaria.html